Os desenhos…
Passo grande parte da minha vida a ver desenhos. O que é óptimo. Parte substancial desses desenhos é decorrente de enunciados muito particulares dentro de um contexto académico, também ele, sui generis. Torna a sua apreciação mais fácil, isto porque todos têm que responder aos mesmos princípios geradores e porque o confronto com os seus pares se torna, naturalmente, mais claro.
Escolher, avaliar, preferir, optar… entre desenhos em que apenas o Tema é o motor que desencadeia o próprio acto do desenho não se afigura tarefa simples. As possibilidades de registo são imensas. Assim, os desenhos em apreço comungam dessa miríade caleidoscópica de concretizações. Resta-me olhar para os desenhos considerando o Tema proposto – registo de viagem de estudo ao sul de Espanha – tendo como referência norteadora expressões tão delicadas como composição, clareza, expressão gráfica, escolha do assunto, campo de visão, controlo da imagem, ocupação da folha… e a intraduzibilidade de meia vida a olhar para desenhos.
José Maria Lopes
Um grupo de estudantes de Arquitectura viaja até ao Sul de Espanha para ver Arquitectura. Faz-se registo, desenha-se e fotografa-se, para fixar as imagens na memória.
Depois decide-se expôr os registos, mostrar o que se viu e se registou, para que se não fique só no sentido individual do registo, e se passe a uma acção colectiva, tão colectiva como a viagem e a sua organização o foram.
Daí à ideia de criar um estímulo, lançando um concurso, é só um pequeno passo.
Um concurso pressupôe um júri, uma escolha, uma forma de distinguir, de classificar, e esse é o drama.
Para além dos desenhos , são presentes quarenta e três fotografias, tantas fotografias! de um modo geral boas fotografias, daquelas que não importaria de ter, ou de ter feito!
Havia que escolher, considerando prioritariamente que se tratava de uma viagem, de um grupo e de Arquitectura, não ignorando depois conceitos tão escorregadios, como composição, técnica, impacto nos olhos e na memória, isto é o plano estético, palavra que custa tanto a pronunciar...
Há uma cena logo no princípio do filme Amadeus, de Milos Forman, em que o muito jovem Mozart, está a escolher perucas e se lamenta de não ter três cabeças para poder usá-las todas ao mesmo tempo. Não foi fácil deixar de pensar nessa cena.
António Madureira
Vencededor, desenho
Teatro romano de mérida
Mérida, Abril 2015
David Oliveira
Vencedor, fotografia
Centro Cultural Caja Granada, Campo Baeza
Granada, Abril 2015
Laura Zhang